Anticoncepcional não é tratamento para doença ginecológica 2

Uma leitora me fez esse comentário tão interessante sobre este tema que merece um artigo a parte.

“Tenho SOP e trato com anticoncepcional e na verdade, antes de iniciar o tratamento, minha ginecologista investigou as porcentagens de hormônio e o funcionamento da minha tireoide. Você afirmou ai no texto que o SOP (e problemas na tireoide) são ocasionados por excesso de estrógeno (e ainda disse que por sermos expostos a esse hormônio constantemente). Me diz então, como eu tenho SOP e não tenho problemas na tireoide? Pior ainda, quando investiguei minha contagem hormonal apresentava justamente baixo estrogênio? Acredito que a nutrição possa ter relação com hormônios no corpo, mas se fosse assim, eu deveria ter estrogênio saindo pelos ouvidos e não uma contagem baixa aos 16 anos (quando foi diagnosticada minha SOP). O anticoncepcional me ajudou muito, não pense que é ignorância minha achar que é uma medicação ótima, mas no meu caso me ajudou com o hirsutismo, amenorreia e ainda limpou minha pele. Só o bem que fez a minha autoestima já foi importantíssimo. Acho que para algumas pessoas, é importante entender a relação dos riscos que o uso indiscriminado e sem acompanhamento dos anticoncepcionais traz, mas outras pessoas vivem muito melhor quando utilizam o anticoncepcional certo.”

Medicina não é uma ciência exata. Nunca há tudo ou nada. E as informações devem ser aplicadas ao caso específico de cada paciente.

Meu texto alerta para a relação entre disfunção tireoidiana e predominância estrogênica. Condiçoes clínicas da endocrinologia funcional, mas que não é comum Na medicina convencional.

A existência dessa relação traz uma possibilidade terapêutica diferente do uso da pílula para o resto da vida fértil da mulher.

A leitora exclui diagnóstico dessas condições clínicas (predominância estrogênica e disfunção tireoidiana ) a partir do exame de sangue feito pela ginecologista. Mas, em endocrinologia funcional, esses dados não são suficientes.

Toda a explicação disso renderia um livro. Eu não tenho tempo para isso no momento. Mas algumas consideções podem ser úteis. Para quem fala inglês, tem já muita coisa boa sobre isso.  Basta pesquisar.

Meu texto não é específico para SOP e sim doenças ginecológicas no geral. Cada uma delas têm suas particularidades.  E portanto, tudo que eu escrevo aqui JAMAIS irá substituir uma consulta personalizada.
Alguma considerações sobre predominância estrogênica:

A predominância estrogênica é uma condição clínica importante para quem estuda endocrinologia funcional, mas pouco considerada na medicina convencional.  Ela pode ocorrer por xenoestrógenos, substâncias que tem afinidade pelo receptor do estrogênio mas desempenham funções diferentes da biológica, gerando assim o adoecimento.

Os exames de sangue dosam (principalmente) o estrogênio bioidêntico (o natural) e nessa, os xenoestrógenos ficam de fora.

A dosagem da SHBG, uma proteína que transporta hormônios sexuais (e coisas que possam se parecer com eles) pode ajudar na interpretação.  Então, há situações em que a dosagem do estrogênio está normal ou até reduzido no exame sanguíneo, mas a SHBG está aumentada. Mostrando que tem algo aí fazendo uma desrupçao endócrina, o que pode sugerir uma predominância estrogênica. Esse caso é confirmado pela clínica (sinais e sintomas que o paciente apresenta) e também por uma prova terapêutica: tratamento de modulaçao hormonal.

A relação entre estrogênio e progesterona também é um outro parâmetro importante na definição de predominância estrogênica.

Modulação hormonal é diferente de dar estrogênio e progesterona sintética (pílula). O contraceptivo suprime o eixo endocrino, não trata a causa e com o tempo Pode se tornar ineficaz. sorte tem as pacientes que entram na menopausa antes do problema se agravar. Mas, é algo frequente na ginecologia a ocorrência de miomas e piora progressiva do ciclo menstrual com o passar do tempo de “tratamento”.

Quanto ao diagnóstico de disfunção da tireoide.

Existe uma máxima em medicina.

“a clínica é soberana”  isso significa que se a pessoa tem sintomas de hipotireoidismo, o exame de sangue positivo confirma o diagnóstico. Mas o exame negativo não é excludente de uma disfunção da tireoide.

Novamente aqui uma diferença entre a endocrinologia funcional e a convencional.

O TSH aumentado é apenas um parâmetro para apontar um problema da tireoide. Mas não é o único.

Exemplo: a tireoide pode funcionar direito mas, será que o hormônio está sendo bem utilizado pelas células?  Se o corpo não utiliza o hormônio de forma adequada, o TSH pode estar normal e o paciente apresentar queixas de hipotireoidismo.

Então pode haver sim, problemas relacionados também à tireoide e ao metabolismo do iodo, mesmo com exame de sangue normal. A prova terapêutica (melhora dos sintomas com o tratamento funcional e portanto não é com pílula nem com hormônio de tireoide) vai nos sugerir isso.

Não resta dúvidas que, muitas, como esta leitora, tem um  benefício mensurável do uso do anticoncepcional. Mas, uma outra máxima na medicina é:

utilizar a terapia que apresenta menor risco.

Eu considero tratamento aquelas terapias que tendem à cura.

Usar pilula, por analogia, é o mesmo que dizer que camisa de força é tratamento para loucura.

Você controla, mas não trata

E este exatamente é o motivo do primeiro post. Alertar que existem outras possibilidades de tratamento de doenças ginecológicas além do uso para toda a vida de uma droga como o anticoncepcional.  E se há essa possibilidade, vale a pena tentar.

infelizmente eu não tenho tempo para escrever aqui tudo que sei e pesquiso.  Mas que sirva para vocês saberem que é possível e então procurarem alternativas mais saudáveis. Já tem muita coisa escrita nos posts aqui.

Meu grupo no facebook, ciclo saudável, tem orientações naturais. Hábitos, alimentos e suplementação que podem auxiliar e que não necessitam de prescrição médica.

4 comentários sobre “Anticoncepcional não é tratamento para doença ginecológica 2

  1. Dra.
    Estou super encantada por ter encontrado este blog.
    Depois de passar a ter medo dos diversos problemas do anticoncepcional, já estava pensando seriamente em parar, por acaso encontro o blog.
    Iniciei tratamento com homeopata (para um reequilíbrio, haja vista que estou muito cansada mentalmente e stressada) e já tenho consulta marcada com ortomolecular, estou ansiosa também.
    Este ortomolecular exige um exame prévio à consulta (eletrosomatograma e bioressonancia), gostaria de saber sua opinião sobre ambos, se considera efetivos para diagnóstico.
    Obrigada pelas informações aqui postadas, passei um bom tempo lendo seus posts!
    Felicidades!

    • Eu conheço esses dois exames, mas não tenho experiência com eles. Isso significa que eu não tenho parâmetros para comparar o meu diagnóstico clínico com o diagnóstico que esses aparelhos dão.

      Acredito que qualquer exame deva ser complementar a uma boa história clínica. Isso significa que exames complementares podem orientar o médico, mas daí a julgar eles indispensáveis, vai depender da experiência e o valor que cada médico/terapeuta atribui a esses equipamentos.

      Portanto, não cabe a mim julgar a exigência do seu médico.

      Mas acho importante salientar que nós nos prendemos demais a diagnósticos. Achando que é necessários encontrar uma doença para que então se faça um tratamento. Esse é o pensamento médico convencional. Mas, na minha prática, eu não me prendo mais ao diagnóstico, até porque, grande parte das doenças diagnosticadas pela medicina não tem cura.
      O que faço é estabelecer condutas de suporte ao corpo humano. Seja lá qual for a “doença diagnosticada”, o próprio corpo tem a capacidade de se auto-curar, desde que proporcionamos condições para isso.

  2. Bom dia, achei seu blog por acaso enquanto procurava “qual melhor anticoncepcional para SOP” visto que com Selene meu corpo não se adaptou bem e me sentia realmente muito mal, e com o Yasmin (que é o que eu atualmente tomo), estou tendo o famoso acantose nigricans. Eu estava realmente pensando sobre o uso de anticoncepcionais já que meu corpo de alguma forma sempre respondem a eles. O relato da sua leitora foi que o estrogênio estava abaixo. Meus exames mostram testosterona livre normal, SHBG normal, estrogenio (E2) normal e SDHEA baixa: 12,90 e tenho 17 anos. Mas clinicamente eu possuo um grande caso de Hirsutismo que não foi explicado nos exames. Então a endocno receitou Metformina 3x ao dia dose de 500 e o anticoncepcional. No seu ver, é ainda desnecessário? Que eu deveria procurar outro tipo de alternativa? Sendo que eu tenho todas as consequências indesejáveis da SOP: hirsutismo, acne, amenorreia e etc..

    • Como lê nos meus textos, não compactuo com a idéia de medicamentos para uso contínuo.
      Certamente devem haver mais informações para os seus desequilíbrios, como hábito que podem melhor, alimentação etc.. Contudo, apenas com um contato personalizado eu poderia te auxiliá-la. acesse meu site clinicadelongevidade.com.br lá tem questionários para os próximos passos

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